quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Dali, Gala e Eluard: Liberdade Surrealista


Olha que história mais linda: Era uma vez um poeta chamado Paul Eluard, da escola surrealista, que era casado com uma russa chamada Gala (qualquer coisa 'ovsky') Eluard. Dalí tornou-se melhor amigo de Eluard mas apaixonou-se perdidamente pela maravilhosa Gala, que seria a eterna musa de suas obras de arte. Gala apaixona-se por Dali e deixa Eluard. Dali e Gala se casaram e viveram juntos até o último dia de suas vidas, muito embora Dalí teria vivido um amor platônico por Federico Garcia Lorca, que, segundo Dali, não se materializou porque dar o rabo doía muito). O que enalteço aqui é a figura de Eluard, que possuía a sabedoria rara de não julgar as coisas que dizem respeito ao amor. Defensor da liberdade, compreendia que o amor, quando acontece, 'não tem dono nem nunca terá, não tem governo nem nunca terá e que não tem juízo', como cantaria Chico Buarque mais tarde.

Se liga nos doidaços:
(acima, retrato de Gala Eluard Dali)
LIBERDADE

(Poema de Paul Eluard, traduzido por Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira)

Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome

Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Nas jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome

Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome

Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome

Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

No fruto partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome

Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome

No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome

Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome

Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar : Liberdade

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