sexta-feira, 7 de maio de 2010

Voltar a dançar...

'Ela é bailarina!', disse mamãe para a minha tia avó de Sorocaba. 'Óh! Que beleza, menina!', me abraçou sorrindo: 'Meu sonho era ser bailarina, sabia? Eu acho balé a coisa mais linda que Deus inventou! Vamos, dança alguma coisinha para mim?'. Não sou estraga prazer e Deus que inventou o balé sabe o quanto acho os velhinhos respeitáveis... Tinha que dizer a verdade à dona Olga.'Olha, tia Olguita... Não é bem assim. Eu já fui bailarina... Um dia. Mas isto foi há muitos anos. Hoje já não posso mais dançar. Bailarina não é um estado de espírito, entende? É uma profissão dura, que exige muito treino, técnica e muitos cuidados com os tornozelos. Por isso, aos 18 anos, quando os meus tornozelos pifaram decidi deixar a dança para estudar jornalismo...', expliquei enquanto mamãe fazia mímicas dizendo: 'Pára com esta rigidez a e dá só uma voltinha para agradar a titia!'. Não ia dar voltinha nenhuma. Sim, tenho problemas com a dança, ainda não sei brincar de dançar. Quem sabe um dia... Mas desculpe, fingir uma dancinha agora não vai dar". 'Tia, a senhora aceita alguma coisa para beber? Água, suco?'. Ela disse que sim. Virei e caminhei em direção à cozinha, com os olhos cheios de saudade de dançar. Quando voltei, tia Olga bateu palmas. Disse que a parte mais bonita foi quando eu abaixei o tronco, com as pernas esticadas, para pegar a colherinha que havia caído no chão. 'Você bebe água como uma russa!'. Por um minuto pensei que poderia voltar a dançar. Elevei os pés e sorri:'Obrigada, titia'.