quarta-feira, 21 de abril de 2010

Crime e castigo

A mão bate conforme pede o martelo. Martelada! Acordei assim, do sono, do nada. Ninguém é santo, ninguém é anjo e nada é por acaso nesta vida. Nada que lhe venha às mãos, embrulhado em papel de ouro ou alumínio será seu para sempre. Nada neste mundo vem de graça. Nada. A não ser que você seja merecedor dela. Esta coisa de graça é para poucos. Requer trabalho de décadas e merecimento de vidas. Enquanto isso, o que cruza o nosso caminho e finge que nos chega por alguma razão ou desrazão é quase sempre uma bela porção de nada. Passa. Escorre por nossas mãos e se perde, enquanto perdemos o controle daquilo que chamamos vida. Acreditamos ser donos de tantas coisas que não nos pertencem, defendemos nossas ilusões com unhas e dentes, acreditamos, brigamos, nos apegamos e colocamos gente em patamar que só Nosso Senhor ocuparia. No fim do dia, da aquela azia na alma. A gente é tão pequeno e ainda assim, tão indigesto. Esta noite enquanto dormia tranquila, num sono pesado de doer, um mosquito colou na minha orelha e gritou: 'Acorda diabo!` . Abri os olhos e ele estava lá, me olhando feito um zumbi: `Eu vou ficar aqui até você me ouvir. Há. Há. Há.'. Pegou um triângulo e começou a cantar `eu sou a mosca que pousou em sua sopa...`. Não durou muito. Com a precisão que só a raiva traz ao ser humano, matei o inseto num único tapa'. Pá! Crime e castigo. Matados o sono, o mosquito e a paz que reinava sobre a minha consciência adormecida, a insônia entra em meu quarto vestida de vermelho. Escrevo impressões sobre a miséria humana. Estou cansada. Peço a ela que me dê um colo. Um carinho. Que segure em minha mão e que me diga que nem tudo é ilusão. 'A lógica do mundo é hostil, querida. Deixe disso agora e venha se deitar comigo'.

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