segunda-feira, 8 de março de 2010

Como se pode viver uma vida vazia?

Por alguma desrazão do destino, tiveram que se separar. Parecia preciso estar longe. O tempo era de temor. Tudo era impreciso. Como duas cabras cegas, Benjamin e Irene não conseguiram enxergar que ali, não havia segredo. Qualquer desconhecido que assistisse à despedida do casal naquela estação de trem juraria por Deus e pelo Diabo que os dois se amaram até o último frame daquela cena. E se amaram. Se amaram quando sentiram medo de ficar. Se amaram quando sentiram medo de nunca mais voltar. E com o passar dos anos, se amavam quando sentiam saudade. Um dia a saudade não passou e Benjamin cansou de meio-amar. Acordou às sete da manhã e tomou o trem das oito, que o levaria de volta para casa. Quando chegou, a casa já não era a mesma. Ele também não era. Foi preciso tirar os sapatos e pedir licença para entrar. Estava descalço quando viu Irene descer as escadas. Ela também não era a mesma. Os sapatos altos deixavam aquela mulher alta ainda mais distante dos pobres mortais que havitavam a terra de Benjamin. 'Benjamin!' - gargalhou Irene, arrancando os sapatos dos pés para, enfim, correr desesperadamente em busca de um tempo que não deveria ter ficado para trás. Depois que se abraçaram descomunalmente, feito criança que aperta bicho de estimação, olharam-se por horas e horas a fio, e no silencio de seus olhares, imaginavam segredos e simulavam perigos. Estavam cegos mais uma vez. O tempo era de temor. Tudo era impreciso. O amor estava vivo.

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