sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Todo carnaval tem seu fim


Fazia três horas que eu estava pulando naquele bloquinho de Carnaval que partia de Ipanema à Copacabana. A Melissinha vermelha que vestia meus pés escondia o sangue que escorria das bolhas e coagulava feito confete grudado não se sabe se na pele do pé ou no plástico do sapato. 'Chegou a turma do funil, todo mundo bebe mas ninguém fica parado...' - cantava Durval, o japonês de cabelos cacheados e negros como os do vocalista da banda Chiclete com Banana. 'Mais uma cervejinha, Juju?'. 'Ôpa, Japônês!' Ala la ô, ô, ô... Mas que calor fazia naquela terça-feira! 40 graus na cabeça embebedada, ziriguidum, forrobodó, decadência bonita do samba. Na frente, um monobloco de chapadões. Ao lado, Durval ensopado saltitando toda a alegria da bala que tomou com groselha Milani. Atrás de mim, minha melhor amiga divide melzinho com pinga no saquinho plástico com o Zé Pequeno. 'Me dá um Mé!', Bibi gritava para os céus. E se molhava de rir com o cara da Cidade de Deus. Sentei e pensei: 'Ah, se Mumu da Mangueira estivesse aqui agora...' Descolei a Melissa do pé e levando-as nas mãos, fui dar um tapa na praia. Segui em frente, meio assim de viés, tirei o banza do bolso do mano que estava ao meu lado, acendi, puxei, prendi, passei. Quando vi, estava fumando com o próprio Zacarias. Sim. o Zaca: 'Ai Didi...', ele e aquela perucaça. Que miragem: Eu semi-nua, de chapéu branco, com os pés na areia, dançando com o Zacarias e me rindo feito Tião Macalé. Mais de mil palhaços passaram por aquele salão... E quando abri os olhos, acordei numa ressaca desgraçada, morrendo de sede, com a boca grudada. Já era quarta-feira e a cidade estava mais cinza do que nunca. Um brinde ao sonho de Carnaval e à agua benta que é a fonte da vida.

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